Nossa páscoa tem muito mais significado do que ovos e coelhinhos
O texto bíblico que relata a instituição da páscoa bíblica se encontra no livro de Êxodo, capítulo 12. O que é relatado neste capítulo aconteceu na época em que o povo de Deus era escravo em uma terra estrangeira. Já havia passado quatro séculos desde a sua chegada àquele país, o Egito. Talvez até passasse pela cabeça de alguns que Deus os havia esquecido. No entanto, o Senhor, que está e sempre esteve no controle de todas as coisas, já havia marcado a data para o fim daquele sofrimento. A libertação estava por vir (Ex 3:7-8)! Moisés foi o homem escolhido por Deus para liderar essa missão.
Por que estamos fazendo estas considerações? Simples. Este evento, a libertação do povo de Deus da terra do Egito, marcaria um novo tempo. O dia quatorze de abibe nunca mais seria um dia comum para nenhum judeu. Esta foi a data em que a primeira páscoa da história foi celebrada. Neste dia, o Egito foi castigado severamente pelo Senhor e os filhos de Israel alcançaram sua libertação (cf. Ex 12). E este dia será um memorial (Ex 12:14), disse o Senhor. Seria um dia de tristes recordações para um lado, e de alegres, para o outro.
Como já dissemos, o significado da palavra hebraica para páscoa é “passar por”. Seu sentido é claro: em seu juízo sobre os egípicios, Deus (Ex 12:13) visitou todas as casas do Egito e feriu com morte todos os primogênitos das casas, mas, onde havia o sangue do cordeiro ele “passou por cima”, ele “pulou”. Deste dia em diante, a cada ano, nesta mesma data, os judeus começaram a comemorar a páscoa, exatamente como o Senhor havia ordenado. Esta festa celebrava a libertação dos judeus do Egito. Era uma festa pela libertação.
Quatro dias antes da páscoa, um cordeiro era separado para ser comido (Ex 12:3-8). O cordeiro deveria ser assado no fogo. Acompanhavam a refeição os pães asmos e as ervas amargas. Cada um tinha um significado. O cordeiro apontava para um evento futuro. Foi o sangue do cordeiro que impediu o juízo de Deus. A casa onde havia o sangue foi poupada do castigo. E veja como o Senhor é pedagógico. Ele não quis que o povo se esquecesse disso. A cada ano, o povo se lembraria deste acontecimento, afinal, este fato antevia o que aconteceria na cruz, no calvário.
Ao comer ervas amargas, os judeus deveriam se lembrar dos seus anos amargos de escravidão no Egito. Os pães asmos, ou sem fermento, indicavam a não corrupção com os costumes egípcios (Ex 12:19).
O fermento é um símbolo de impureza, corrupção (Mt 16:6-12; Mc 8:15; Gl 5:1-9). No final das refeições, qualquer carne que sobrasse deveria ser queimada: Não deverá sobrar nada (Ex 12:10).
Enfim, essa era a “páscoa do Senhor”. A pergunta para nós hoje é: será que temos de continuar praticando-a hoje? É claro que não. Nós não fomos escravos no Egito. Não faz sentido comemorar esta festa, comer ervas amargas etc.
Entretanto, precisamos pensar no significado cristão da páscoa. De acordo com o que já afirmamos, a morte do cordeiro, por ocasião da páscoa, apontava para Cristo. O Novo Testamento confirma isso (Jo 1:29; At 8:32-35; I Co 5:7; I Pe 1:18-20; Ap 5:9-10). Dentre estes textos, gostaria de destacar um: Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós (I Co 5:7). A expressão “foi sacrificado” indica um ato definitivo e completo. É bom guardarmos isso. Hoje em dia existe um movimento muito forte em algumas igrejas evangélicas de judaização do cristianismo.
Nós somos cristãos. Cristo é a nossa glória, Cristo é a nossa páscoa! Na Nova Aliança a páscoa não é uma festa, uma celebração, mas uma pessoa: Cristo! Ele tornou-se o sacrifício supremo para todo o povo de Deus (Hb 9:26). Ele é o nosso cordeiro pascal. Seu sangue nos purifica de todo o pecado (I Jo 1:7). Para nós, crentes em Jesus, estas celebrações, tanto a judaica como a atual, não possuem grande valor, pois, conforme afirmamos, a nossa páscoa é Jesus! Não foi a celebração da páscoa dos judeus e nem é a celebração da páscoa atual quem nos conferiu libertação, mas, Jesus, somente Jesus! Nossa glória está na cruz. Nossa páscoa foi comemorada no calvário. Neste sentido, a nossa páscoa será sempre feliz.
Por fim, concluímos enfatizando que a nossa única celebração, instítuída pelo próprio Cristo para recordarmos a sua morte, é a “Ceia do Senhor”. Em sua última refeição junto com os seus discípulos – uma refeição pascal – ele a estabeleceu. E não podemos confundir as duas coisas. A ceia não é uma nova páscoa. A ceia foi estabelecida como um memorial. “…fazei isto em memória de mim” (Lc 22:19), disse Jesus. Ele “aproveitou alguns dos elementos da refeição pascal e os transformou em elementos da ordenação da Nova Aliança. Era o fim da páscoa por todos os tempos e o início de algo novo e maior”. Mais à frente, o apóstolo Paulo disse: Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice proclamais a morte do Senhor até que ele venha (I Co 11:26). Que assim seja, até o fim!
1. Coelho Filho (2000:83).
2. MacArthur, Jr. (2003:48).
Pr. Eleilton Willian de Souza Freitas congrega na IAP em Vila Maria (SP) e é colaborador do Departamento de Educação Cristã (DEC).
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