segunda-feira, 21 de abril de 2014

Celebrando a liberdade! (Parte 1)

Como surgiu a páscoa dos dias modernos?
A palavra portuguesa “páscoa” é usada para referir-se a uma das festas dos judeus, que no hebraico é chamada de pesah, termo derivado do verbopâsah, cujo significado é “passar por”. A páscoa era a primeira e a principal festa do calendário judaico. Foi estabelecida antes da lei, antes do sacerdócio, antes do tabernáculo e antes de qualquer festa judaica. A Bíblia a chama de “a páscoa do Senhor” (Ex 12:11, 27; Lv 23:5). Mas, o que é páscoa? Com que objetivo esta festa era celebrada? Como ela era celebrada? A festa que se comemora na atualidade é a mesma que os judeus comemoravam? Se não é, como, então, surgiram estes novos costumes?

A outra páscoa
Junto com o natal, a páscoa é uma das festas “cristãs” mais celebradas em todo o mundo. Todavia, qualquer pessoa que se dispuser a estudar a Bíblia Sagrada, notará que a festa da “páscoa”, celebrada atualmente, em nada se parece com a páscoa dos judeus. É outra páscoa! A diferença começa no que se comemora em cada uma delas. “No judaísmo a festa celebra e recorda a libertação do povo do cativeiro do Egito (…). No cristianismo, a festa transformou-se em celebração da ressurreição de Jesus”.[1]
O que ocasionou tal mudança? Quem instituiu esta “páscoa cristã”? Se ela devesse mesmo ser comemorada, nos moldes atuais, porque não encontramos nenhuma menção desta celebração registrada no livro de Atos dos Apóstolos, que narra os primeiros trinta anos da igreja cristã primitiva? Não há nada registrado sobre “Quaresma”, “Semana Santa”, “Quarta-feira de cinzas”, “Domingo de Ramos”, “Sexta-feira Santa”, “Sábado de Aleluia”. De onde, então, veio a observância da páscoa nestes padrões?
Pois bem, tudo começou, quando o cristianismo, que dava seus primeiros passos, decidiu comemorar uma festa com características peculiares, afastando-se das tradições judaicas. Daí, como uma tentativa de emancipar o cristianismo do judaísmo, a páscoa cristã surgiu, no início do segundo século em Roma, com uma cerimônia totalmente distinta. Vale lembrar, como acertadamente faz o famoso Dicionário Vine, esta celebração totalmente “nova” dos tempos pós-apostólicos, “não foi instituída por Cristo”; nasceu da vontade dos primeiros cristãos.
Como eram estas celebrações? Originalmente, a páscoa cristã era uma única celebração noturna, que relembrava tanto a morte como a ressurreição de Cristo. A cerimônia incluía o acendimento da vela pascal, orações, leituras das Escrituras e a celebração da ceia do Senhor. Com o passar do tempo, entrou para a liturgia destas cerimônias a realização do batismo; e isso, por sua vez, acarretou a extensão do breve período de preparação para os quarenta dias da Quaresma. Sendo assim, a festa única foi dividida em várias partes. A partir do ano 325 d.C., o Concílio de Nicéia fixou uma data anual para esta celebração (que perdura até os dias atuais): o primeiro domingo, após a primeira lua cheia que ocorrer após, ou noequinócio da primavera.
Mas, e os “ovos de chocolate e os coelhos de páscoa”? De onde apareceram? Bem, ao longo dos séculos, muitos costumes populares que refletiam o folclore pagão da primavera, foram anexados à celebração da páscoa cristã, entre eles, o coelho e os ovos de páscoa. Existia uma festa pagã que celebrava a volta da primavera. Nos antigos povos do Egito e da Pérsia, os amigos trocavam ovos decorados nesta época. O ovo é um dos mais antigos símbolos da vida. Os “mitos antigos referem-se aos ovos como a fonte de toda a vida biológica”.[2] Os povos da antiguidade o consideravam também como um símbolo da fertilidade.
Os cristãos ocidentais adotaram esta tradição e o ovo passou a ser um símbolo religioso. Ele “veio a simbolizar a páscoa e a ressurreição, mas isso de acordo com um pano de fundo muito mais pagão e germânico”.[3] E, por que eles são feitos de chocolate? Bem, os ovos de chocolate, como conhecemos hoje, surgiram apenas no século XX, e por um motivo muito mais comercial, do que qualquer outro. O chocolate não tem nada a ver com a simbologia da páscoa e nem com o folclore pagão da primavera. Ele foi somente a matéria prima escolhida para ser usada, por ser bem aceita pelo consumidor.
Quanto ao coelho, ele também sempre foi um símbolo de fertilidade, assim como o ovo. A razão é óbvia: ele se reproduz rápido e em grandes quantidades. “No Antigo Egito, o coelho simbolizava o nascimento e a nova vida. Alguns povos da Antiguidade consideravam o coelho como o símbolo da Lua, portanto, é possível que ele tenha se tornado símbolo pascal devido ao fato de a Lua determinar a data da Pascoa”. E, é óbvio: ele foi incorporado à festa da páscoa pela tradição, não pela Bíblia.
Em suma, na celebração pascoal de hoje, a “Quaresma” representa o período de preparação para a páscoa que começa com a quarta-feira de cinzas e vai até a “Semana Santa”. A “Semana Santa” é a semana que antecede o Domingo de páscoa e relembra a última semana de Jesus aqui na terra. Dentre os símbolos que foram anexados a esta celebração, os ovos representam a ressurreição de Cristo e o coelho, a fertilidade. Lembramos, uma vez mais, que nenhum destes costumes foram instituídos pelas Escrituras.
(Leia a parte 2 nos próximos dias)
Pr. Eleilton Willian de Souza Freitas congrega na IAP em Vila Maria (SP) e é colaborador do Departamento de Educação Cristã (DEC). Leia a parte 2 nos próximos dias
1. Cristofani (2008:750)
2. (2001:650)
3. Ibidem

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