Em janeiro deste ano, eu e minha esposa estivemos na Palestina. Conhecemos um mundo sobre o qual apenas havíamos lido a respeito. Fizemos amigos e encontramos muita gente. Pessoas que alguns chamam “terroristas”, e outros “combatentes pela liberdade”. Indivíduos que carregam nos ombros a tristeza da perda e nos olhos, o vazio da desesperança.
Não era nosso plano ir lá para evangelizá-los. Porém, tendo oportunidade, como deixaríamos de falar das coisas que vivemos? Esse sentimento tornou-se mais pulsante em Hebrom, cidade onde viveu Abraão. Lá perguntei a alguns amigos palestinos:
“Quantos cristãos há aqui?”. Eles responderam: “Dois. Você e sua esposa.” A triste resposta foi confirmada por outras pessoas. Não há igreja ou cristãos locais na cidade onde viveu o pai da fé. Existem apenas pessoas sedentas. Elas conhecem um pouco da esperança que temos, Jesus. Sabem que ele é eterno, nasceu de uma virgem, viveu sem pecado, acendeu aos céus e voltará no fim dos tempos para julgar vivos e mortos. Não conhecem a parte mais bonita da história: ele morreu na cruz para vivermos em amor e liberdade, para herdarmos a Jerusalém celestial.
Foi disso que falamos aos nossos amigos. “Loucura! Deus não mataria um inocente por um pecador como eu”, respondiam. De fato, a mensagem da cruz é loucura para os que estão se perdendo. Tentávamos argumentar, falando da graça de Deus e do amor de Jesus. Em uma das conversas, um deles se levantou e disse: “Você já viu um homem entregar a sua vida por outro?” Emudeci. Em minha mente, lembrava das palavras de João: “Sabemos o que é o amor por causa disto: Cristo deu a sua vida por nós. Por isso nós também devemos dar a nossa vida pelos irmãos.” Compreendi que nenhum argumento seria de valia naquela hora. Toda a teologia que aprendi era inútil. Entendi que a cruz não existe para ser estudada, mas para ser carregada. Só assim podemos testemunhar dela.
No texto anterior, disse que é indispensável que sigamos o modelo de Cristo. Se desejarmos testemunhar dele, só há um caminho: imitá-lo. Jesus abriu mão de tudo que era seu e tomou a natureza de servo, tornando-se igual aos seres humanos. E vivendo a vida comum de um homem, foi humilde e obedeceu a Deus até a morte de cruz. O Filho de Deus poderia agir diferente, mas, ao invés disso, compartilhou nossas dores, nossa pobreza e, assim, deu-nos um modelo.
Outro dia li um relatório segundo o qual os missionários geralmente chegam ao campo com suporte financeiro substancial, moram em casas boas de bairros ricos, seus filhos vão às melhores escolas, têm acesso aos melhores hospitais e freqüentemente viajam de férias para o exterior. Isso, o autor do texto apontava, causa dois problemas. O primeiro é que as pessoas associam o Evangelho com o pacote de benefícios descrito acima. E muitas conversões são de interessados em receber tal pacote. Alguns missionários, por sua vez, usam desses benefícios para incentivar os novos convertidos. Não por acaso, a atração de prosélitos é uma das maiores desculpas para que os perseguidores ataquem a Igreja em lugares hostis ao cristianismo.
Em segundo lugar, entrevistas com crentes do Norte da África mostram que recém-convertidos não sabem como se relacionar com a família de forma cristã. Eles dependem do exemplo do missionário para aprender a remodelar esses relacionamentos de acordo com a nova fé. Infelizmente, a casa, a escola e outras “necessidades” familiares do missionário são tão diferentes das do cristão local que essa interação é praticamente impossível.
Acrescento um terceiro problema. Penso que é difícil testemunhar do sacrifício na cruz enquanto se usufrui privilégios que apenas uma ínfima parte da população local desfruta. Não desejo julgar pessoas ou ministérios.
Esta é, essencialmente, uma reflexão pessoal. Pois da próxima vez que me perguntarem se já vi um homem entregar a sua vida por outra pessoa, quero responder: “Sim. Eu."
Fonte: Vida Nova
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