segunda-feira, 22 de março de 2010

A igreja Cristã e os Necessitados

Acudi os santos nas suas necessidades, exercei a hospitalidade, Rm. 12:13.

À semelhança da "comunidade no deserto", a "comunidade do primeiro século" tem também o seu líder: Cristo. Lucas, o médico, o descreve como sendo Aquele que foi ungido por Deus para anunciar boas novas aos pobres; para proclamar libertação dos cativos; restaurar a visita dos cegos e, sobretudo, pôr em liberdade os oprimidos, Lc. 4:18.

Mateus, entretanto, fala do Cristo que sobe ao monte para dizer que são bem-aventurados os pobres, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os limpos de coração, os pacificadores, os que são perseguidos, os injuriados e termina dizendo que os tais devem-se alegrar porque grande será a recompensa deles, Mt. 5:1-12. É neste sentido que o evangelho significa boas novas, boas notícias, pois é uma mensagem que se identifica com as necessidades de todos estes grupos sociais aqui mencionados.

Isto porque uma mensagem que não fosse solidária a todas estas realidades, tantos espirituais como sociais, não seria boas novas e nem boas notícias. Seria, sim, mais um amontoado de palavras sem significado prático na vida das pessoas. O teólogo metodista José Míguez Bonino, no livro, "Luta pela Vida e Evangelização", falando sobre os ideais sociais de John Wesley na Inglaterra do século XVIII (ideais estes que foram esquecidos por grande parte do cristianismo do nosso tempo), nos faz lembrar as três famosas regras Wesleyanas, que são: "ganhar tudo o que puder, economizar tudo o que puder, dar tudo o que puder". Estas normas deveriam continuar sendo modelos para nossos dias, pois, é tempo de ganhar, de economizar e de dar também.

O apóstolo Paulo, demonstrando o seu grande desvelo pelos necessitados, chegou mesmo a escrever à região da Galácia pedindo aos cristãos desse lugar que não se esquecessem dos outros. Quando Paulo fez tal recomendação àqueles cristãos, não estava estimulando os pobres a conformarem-se com a pobreza. Não estava dizendo também que devamos pregar a pobreza como ideal de vida. Além disso, este tipo de pensamento não fazia parte da fé dos irmãos do primeiro século. Pelo contrário, a igreja primitiva tinha consciência de que Deus deseja o bem-estar tanto social como espiritual das pessoas, como também a prosperidade delas, não tendo Ele prazer que o homem, criado à Sua imagem e semelhança, viva em condições deploráveis.

Isto é tanto verdade que um dos temas que mais o apóstolo Paulo pregava era a "igualdade". Segundo ele, "igualdade" significa "igualar para melhor". E a "igualdade" só poderá tornar-se realidade através da conscientização cristã dos mais favorecidos. Por esta razão, o apóstolo Paulo, visando amenizar a situação crítica pela qual estavam passando os irmãos de Jerusalém, adotava o sistema de coletas entre os irmãos da Ásia que, de bom grado, atendiam à solicitação do apóstolo.

A voz da comunidade primitiva denunciava as injustiças sociais do seu tempo e as entendia como sendo pecado. Compreendia ainda aquela comunidade que se havia os oprimidos havia também os opressores. O apóstolo Tiago diz serem os ricos os opressores, pois, não existe efeito sem causa, obviamente. Entretanto, seria um equívoco generalizar esta afirmação. Russel Norman Champlin interpreta este versículo dizendo o seguinte: "... os ricos que vos oprimem....". Isto envolve os ricos da sociedade em geral e não os crentes ricos, naturalmente. Por outro lado, seria uma alienação atribuir a Deus a responsabilidade da pobreza e da miséria, uma vez que Ele é amoroso, bondoso, e que quer o bem e a prosperidade das pessoas.

Concluímos, portanto, que a culpa não está nos pobres por serem pobres, mas na engrenagem político-social na qual estão inseridos. Outras virtudes vividas, cultivadas na comunidade do primeiro século eram a hospitalidade, a simpatia, o compartilhar dos sentimentos, tanto tristezas como alegrias, Rm 12:15. Postura esta, por vezes, escassa nas comunidades dos grandes centros urbanos, tendo em vista sermos influenciados pelo individualismo reinante nos mesmos. Cabe-nos, pois, exercitarmos mais estas virtudes e, assim, estaremos contribuindo com o bom relacionamento das nossas comunidades e transmitindo, ao mesmo tempo, uma boa imagem do que significa ser cristão.
Fonte:pc@maral.

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