segunda-feira, 11 de abril de 2011

Massacre em Realengo

A Polícia Civil do Rio de Janeiro quer ouvir um dos interlocutores frequentes do atirador Wellington Menezes de Oliveira, que pode ajudar a entender como nasceu o plano do atentado que matou 12 crianças na escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste da cidade. Apontado como o único amigo do assassino, G., de 28 anos, sofre de problemas mentais e já foi localizado. Vizinhos de rua confirmam já terem visto Wellington na casa do rapaz.

Em conversa com o site de VEJA, G. contou ter conhecido Wellington quando ainda frequentava um templo das Testemunhas de Jeová. Ele diz que frequentava a casa de Wellington e que os dois tinham uma relação de confiança: "Ele se abria para mim". A empatia veio do desejo comum de "seguir as escrituras à risca", numa clara inclinação fundamentalista que, segundo G., acabou levando à expulsão dos dois, após desentendimentos com o superintendente da região.

"Já passei por mais de 15 igrejas, como Testemunhas de Jeová e Assembléia de Deus. Em todas as vezes, fui expulso por ser 'perfeccionista' com a palavra. O superintendente me expulsou porque eu discordava do discurso mentiroso dele. Ele queria que seguíssemos tudo o que os anciões mandam. Foi aí que a máscara dele caiu, porque a Bíblia diz que só devemos seguir Deus e não os homens. E os anciões são homens. Por isso, até hoje me consideram um inimigo do templo", afirmou G., que citou várias vezes o profeta bíblico Jeremias para justificar seu descontentamento com os líderes religiosos.

"Tenho muita decepção, mas estou vendo a justiça de Deus. Todos esses que brincam com a palavra de Deus serão arruinados, ou melhor, já começaram a ser arruinados", disse o jovem, que desconversou quando perguntado se estava se referindo ao atentado na escola do bairro.

G. afirma que também estudou na escola Tasso da Silveira, e que, assim como Wellignton, também teria sofrido bullying. "Eles discriminavam por causa da religião. Faziam as meninas fogosas provocarem a gente. E me chamavam de gay porque eu não cedia. Eu me mantive puro porque a fornicação é condenada pelas escrituras sagradas"

G. acredita que o motivo do atentado foi a vontade do amigo de se vingar dos deboches dos antigos colegas de classe. "Tenho certeza. Eu mesmo para não me vingar daquelas pessoas tive que tentar o suicídio. No final de 2008, tomei 25 comprimidos de Carbamazepina, o genérico do Tegretol", afirmou. Os vizinhos confirmam a tentaiva de suicídio, que teria levado o jovem a ser socorrido no Hospital Albert Schweitzer, o mesmo para onde foi a maioria das vítimas de Wellington.

Apesar das declarações, G. garante que não aprova a atitude do amigo e que não se encontrava com ele há mais de dois anos. "Ele me decepcionou. Revelou-se um lobo em pele de ovelha", disse.

As pistas e sinais deixados por Wellington são um retrato de sua loucura. Em meio ao que foi possível recuperar até agora, a polícia identifica indícios de que o assassino integrava ou pelo menos se inspirava em algum grupo. No entanto, ainda não é possível afirmar com precisão até que ponto as mensagens são nada mais que subprodutos de uma mente desequilibrada.

Textos encontrados em um caderno e numa carta recolhidos na casa de Sepetiba, o autor do massacre conta que fazia parte de um grupo e faz referências ao atentado de 11 de setembro de 2011, no World Trade Center, em Nova York. Wellington também menciona que na internet é possível aprender como fazer bombas e adquirir munição e explosivos.

A polícia descobriu que ele buscou informações para se inscrever em um curso de tiro, tentando melhorar sua habilidade no manuseio do revólver calibre 38 – uma arma considerada obsoleta, mas que, na mão do maníaco, revelou-se letal e tão ameaçadora quantos pistolas e metralhadoras modernas.

Novamente surgem menções a religião. Wellington deixou registrado que lia trechos do Alcorão durante quatro horas por dia. “Estou fora do grupo, mas faço todos os dias a minha oração do meio-dia”.

Em um dos trechos que parecem mais fantasiosos, Wellington cita a vinda de pessoas de outros países. “Tenho certeza que foi o meu pai quem os mandou aqui no Brasil. Ele reconheceu o Abdul e mandou que ele viesse com os outros precisamente ao Rio. Quando eu os conheci e revelei tudo a eles, fui muito bem recebido e houve uma grande comemoração”. Além de Abdul, ele cita também alguém de nome Philip. “Tive uma briga com o Abdul e descobri que o Phillip usava meu PC para ver pornografia”.

Wellington manifesta vontade de conhecer o mundo islâmico. “Pretendo trabalhar para sair desse estado. Ou, talvez, irei direto ao Egito”, diz outro trecho.

Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/investigadores-buscam-as-conexoes-de-wellington

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